Marina Verjovsky
A partir da esquerda, Caroline Fonseca, Marcel Frajblat, Arnon Jurberg, Luiz Ricardo Berbert e Michelle Santos: equipe utilizou técnica revolucionária de edição do DNA para produzir o primeiro camundongo nocaute no RJ (Foto: Divulgação) |
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) produziram os primeiros camundongos nocautes do Rio de Janeiro, utilizando uma técnica revolucionária de edição do DNA. O camundongo nocaute é usado como modelo animal para estudar doenças e elucidar funções dos genes e a técnica empregada foi o CRISPR, que é considerada revolucionária na edição genética.
A utilização de camundongos nocautes é essencial para a compreensão de muitos fenômenos biológicos, porque permite estudar a função de genes em contextos abrangentes como o desenvolvimento embrionário, uma resposta imunológica, no envelhecimento ou na doença.
Os pesquisadores Arnon Jurberg e Marcel Frajblat, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, juntamente com as alunas de doutorado Caroline Fonseca e de mestrado Michelle Guimarães, inativaram, primeiro, um gene que está envolvido na agregação de plaquetas do sangue e pode ser um alvo para o tratamento de trombose e outros distúrbios de coagulação. Conhecido pela sigla P2ry12, esse gene também atua na migração da micróglia, células do sistema imunológico envolvidas no início do processo de inflamação no sistema nervoso.
"A produção de modelos animais geneticamente modificados no Rio de Janeiro não só coloca o estado na vanguarda da pesquisa genética, mas também destaca o impacto que eles podem ter na investigação de novos tratamentos para muitas doenças. De um lado, a Biologia Molecular nos forneceu as ferramentas necessárias para a realização das edições genéticas e, do outro, a Fisiologia da Reprodução foi essencial para o manejo e produção dos embriões utilizados. Essa conquista é, sem sombra de dúvida, um avanço marcante para a ciência fluminense", disse Jurberg.
Com o domínio dessa tecnologia, os pesquisadores acreditam na rapidez de produção de novos animais geneticamente modificados em vez de importá-los. A tecnologia CRISPR acelera muito esse processo e permite que alterações genéticas mais desafiadoras sejam realizadas. Com isso, o estado do Rio de Janeiro poderá ganhar autonomia com a diminuição da necessidade de importação de modelos animais. Esta conquista é um passo significativo para a autossuficiência científica e tecnológica, potencializando a capacidade de inovação e a competitividade fluminense no cenário global.
"Essa é uma das áreas da pesquisa biomédica mais carente no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro. Todos os modelos animais geneticamente modificados utilizados nas instituições de pesquisa do nosso estado são importados. Entender as funções dos genes do camundongo é essencial para entender o genoma humano e como diversas doenças humanas surgem e evoluem. O camundongo compartilha mais de 80% do seu genoma com o ser humano e, com isso, se torna um excelente modelo de estudo", explica Frajblat.
De acordo com Jurberg, o primeiro gene alterado foi escolhido devido ao interesse dos professores Robson Coutinho e Luiz Eduardo Sávio, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ, e que trabalham em linhas de pesquisa que podem se beneficiar dessa conquista. Segundo ele, foram cerca de oito meses entre a definição do alvo, a compra de reagentes importados e três rodadas para a produção do animal, nascimentos, coleta de material genético e caracterização da alteração desejada. E a busca agora é pela redução do tempo para três a quatro meses.
Um segundo camundongo geneticamente modificado foi produzido pelo grupo a pedido do professor Rodrigo Tinoco, também da UFRJ. Esse camundongo é deficiente para o gene Lysmd3 que codifica uma proteína envolvida na resposta inflamatória à quitina. Estudos demonstram o papel da quitina na inflamação pulmonar, e o animal será utilizado como modelo para tratamentos de doenças inflamatórias pulmonares como a fibrose pulmonar e asma alérgica.
Alavanca indispensável - Arnon Jurberg e Marcel Frajblat fazem coro ao falarem da importância da FAPERJ para a realização desse marco. Os investimentos permitiram o crescimento da startup Altera Genetics, por meio do edital Doutor Empreendedor da Fundação, conquistado por Jurberg, assim como os recursos recebidos por Frajblat por meio do edital de Apoio às Fronteiras da Ciência e Inovação RJ. Esses recursos são aplicados nos laboratórios de Animais Transgênicos e de Inovação em Reprodução Assistida, ambos da UFRJ. Com esse apoio, a iniciativa ganhou projeção e fortaleceu a posição do Rio de Janeiro como um centro de excelência em Biotecnologia.
"A FAPERJ tem se mostrado um pilar inestimável para o desenvolvimento científico de nossos projetos. Com o apoio financeiro por meio de vários editais, a Fundação possibilitou que conseguíssemos os recursos necessários para implementar essas tecnologias nos nossos laboratórios e ampliássemos as parcerias. Inestimável também foram as colaborações do técnico Luiz Berbert, do Laboratório de Animais Transgênicos, e Ademar Couto, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz", ressaltou Frajblat.